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A utilização do agulhamento a seco no tratamento das dores miofasciais

publicado por Instituto Busquet - 11/08/20

O agulhamento a seco é uma técnica, utilizada por profissionais especializados, que consiste na inserção de agulhas extremamente finas na pele, como as usadas na prática da acupuntura, com o objetivo de estimular músculos, ligamentos, tendões, fáscia subcutânea, tecido cicatricial, nervos periféricos e tecido conjuntivo para o tratamento de dores miofasciais e distúrbios de movimento (CASANUEVA et al, 2013).

Muitas vezes essa técnica é confundida com a acupuntura tradicional chinesa, todavia o agulhamento a seco não tem relação com o Qi ou meridianos, nem depende de diagnósticos da acupuntura tradicional chinesa ou da medicina oriental (DEADMAN et al, 2011). Elas se diferem além da sua origem e filosofia, também em detalhes técnicos como o número de agulhas aplicadas, o movimento da agulha, a profundidade da inserção da agulha, a quantidade e força da estimulação e a provocação de uma “resposta de contração rápida” (RCR) (CAGNIE 2014), que se caracteriza por um reflexo espinal, resultante da contração súbita e involuntária das fibras musculares presentes na banda muscular tensa (SIMONS, 1999).

O prática do agulhamento a seco vem sendo utilizada amplamente em diversas disfunções musculoesqueléticas, todavia a técnica foi desenvolvida originalmente com o objetivo de desativar pontos-gatilho miofasciais (DUNNING et al, 2014). Os pontos gatilhos são pequenas áreas hipersensíveis localizadas em uma área muscular tensa, que espontaneamente ou sob estímulo mecânico desencadeiam dor local e/ou referida em áreas adjacentes. Esses pontos gatilhos são microlesões teciduais que podem ocorrer devido alongamentos ou encurtamentos excessivos, sobrecarga muscular ou movimentos repetitivos por exemplo (SIMONS, 1999).

A dor é causada principalmente pela liberação excessiva de acetilcolina (hormônio neurotransmissor responsável pela contração muscular), de substâncias inflamatórias e pelo encurtamento dos sarcômeros (componentes básicos dos músculos que permitem a contração e relaxamento dos mesmos). O aumento de acetilcolina na junção neuromuscular causa elevação da tensão das fibras musculares e, consequentemente, a falta de sangue e oxigênio nessas células que induzem à liberação de substâncias que estimulam os receptores de dor. Essas substâncias causam maior liberação de acetilcolina completando um ciclo vicioso (BUTTS, 2016).

A diminuição da dor e os efeitos gerados pela técnica, abrangem diversos mecanismos de ação que ainda não são totalmente elucidados. Quando inserimos a agulha no local afetado, o tecido é lesionado, induzindo a sua regeneração, que ocorre após 7 a 10 dias. Essa lesão é focal e não causa risco significativo na cicatrização tecidual (DOMMERTHOLT, 2006). Além disso quando a agulha atinge uma banda muscular tensa, ocorre a diminuição da ativação elétrica da placa motora afetada (pela diminuição da ação excessiva de acetilcolina), o que pode ser observado imediatamente pelo terapeuta através redução da tensão do tecido e da diminuição da resposta de contração rápida (RCR) (CHEN et al, 2001).

Como mencionado anteriormente, contraturas musculares sustentadas podem causar diminuição da irrigação sanguínea e de oxigênio locais. Diferentes estudos demonstraram que o agulhamento pode aumentar o fluxo sanguíneo muscular e oxigenação, uma vez que libera substâncias vasoativas que levam a dilatação de pequenos vasos (CAGNIE, 2013). O aumento do fluxo sanguíneo por sua vez resulta em redução da concentração das substâncias que estimulam a dor, culminando na resolução da sensibilização periférica (SHAH 2015).

Outro provável efeito local é o alongamento das estruturas que formam o músculo, seguido de recuperação do comprimento normal dos sarcômeros devido à diminuição da sobreposição dos filamentos de actina e da miosina. Além disso a pressão mecânica provocada pela agulha associada à sua rotação, polariza o tecido conjuntivo. Esse estresse mecânico transformado em atividade elétrica parece auxiliar a remodelação tecidual (DOMMERTHOLT, 2006)

A diminuição da dor pelo agulhamento, se deve também a “teoria de comportas da dor” uma vez que estimula a liberação de endorfinas, uma espécie de analgésico natural do nosso organismo. Os estímulos de dor chegam ao cérebro por meio de fibras nervosas rápidas (A-delta) e lentas (fibras C). As fibras rápidas serão as primeiras a terem resposta do estímulo doloroso pelo sistema nervoso central. Posteriormente teremos resposta das fibras lentas (responsável pela substância P, um neurotransmissor que facilita processos inflamatórios, vômitoansiedade e resposta a dor).

Ao inserirmos e manipularmos a agulha, estimulamos as fibras nervosas A-alfa (possuem função motora de propriocepção e movimento) e fibras A-Beta (respondem a sensação de tato, pressão e vibração), seus estímulos chegam aos centros superiores mais rapidamente que as fibras C (fibras lentas), estimulam a liberação de endorfinas, inibem a substância P e consequentemente diminuem a dor (BUTTS, 2016). É também devido a esse mecanismo que ao pressionarmos ou friccionarmos o local de um machucado temos a sensação de diminuição da dor.

O agulhamento a seco pode ser utilizado com a técnica profunda e a superficial. No agulhamento profundo a agulha é inserida, através da pele, e se aprofunda em direção ao centro do ponto gatilho, podendo atingir a profundidade de até 15 mm dependendo do local e quantidade de tecido adiposo. Apesar de ser uma técnica dolorosa comparada ao agulhamento superficial, alguns estudos demonstraram maior efeito de retenção utilizando a técnica profunda. Nessa técnica podemos utilizar a manipulação da agulha através da pistonagem, na qual a agulha é inserida e parcialmente retirada, repetidas vezes em diversos ângulos. A tendência é que a dor do paciente diminua gradativamente e assim é retirada a agulha. Devemos sempre nos atentar para que a dor causada pelo agulhamento não cause um espasmo protetor ainda maior no músculo, aumentando a dor através dos mecanismos já citados anteriormente. É importante ressaltar que no agulhamento profundo a agulha não pode ser retirada e inserida no mesmo ponto mais de vez (KALICHMA, VULFSONS, 2010).

No agulhamento superficial a agulha é inserida no local do ponto gatilho, na camada subcutânea, entre 5mm e 10mm de profundidade e apresenta a vantagem de ser quase indolor comparado ao agulhamento profundo, além de ser indicado para aplicação em áreas consideradas de risco como pulmões e grandes vasos. Podemos usar algumas técnicas de manipulação como a rotação da agulha e oscilações laterais com frequências mais altas. Além disso podemos utilizar a técnica estacionária, na qual a agulha é inserida no local desejado e mantida sem nenhuma manipulação extra. Nessa técnica a agulha pode ser retirada e colocada sobre o mesmo ponto quantas vezes o terapeuta julgar necessário (KALICHMA, VULFSONS, 2010).

As vantagens da prática do agulhamento a seco para tratamento de dores miofasciais incluem principalmente o fato de ser um método extremamente rápido, com eficácia comprovada cientificamente, na maioria das vezes indolor, de fácil aplicabilidade, com baixa custo e que tem poucas contraindicações. Podemos citar algumas contraindicações como: fobia à agulha, áreas com linfedema, urgências médicas, feridas abertas, histórico de reação anormal a procedimentos anestésicos e estados de inconsciência, ou confusão mental. Também podemos pontuar algumas contraindicações relativas como: terapia com anticoagulante, distúrbios vasculares, epilepsia, alergia ao metal da agulha, gravidez e a aplicação em crianças (UNVERZAGT, 2015).    

Ao final do tratamento é importante uma reavaliação do paciente para verificar se houve uma diminuição quadro álgico e uma melhora na amplitude de movimento do local afetado. Além disso faz-se necessário uma varredura para investigar se ainda existe algum ponto-gatilho que não foi abordado e realizar um alongamento do tecido onde foi aplicado a técnica (BALDRY, 2002).

Finalmente, é de extrema importância realizar uma educação em saúde, tentando identificar quaisquer fatores nas atividades de vida diária do paciente que possam causar as microlesões dos tecidos e a reativação dos pontos gatilhos. Dessa forma, é possível realizar orientações posturais, exercícios e alongamentos que minimizem esse impacto (BALDRY, 2002).

Jéssica Fonseca

Fisioterapeuta

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